Capítulo 03 :: O que quero fazer em outro mundo? Só tem uma coisa: Tsujisoba
Quando Fumiya acordou, estava no céu. Debaixo dele, nuvens se estendiam sem fim como um tapete, e todo o resto era um azul imenso. A cena lembrava a vista de cima das nuvens em um avião, mas não havia sol no céu. Era uma situação estranha.
Apesar de ter acabado de despertar, sua consciência estava surpreendentemente clara. Fumiya parecia estar deitado de costas sobre as nuvens. Ao pressioná-las levemente com a mão, percebeu que tinham uma resistência macia, quase como um colchão.
— “…Então, eu não sobrevivi… Isso deve ser o céu mesmo.”
Levantando-se lentamente, Fumiya fitou o azul intenso do céu, que quase assustava pela clareza. Ele lembrava exatamente o que acontecera antes de acordar nesse lugar parecido com o paraíso.
No dia da inauguração da nova loja em que fora nomeado gerente, um ladrão, simplesmente gritando “Me dá o dinheiro!”, o atacara. Fumiya respondera:
— “No primeiro dia da nova loja, e logo depois de abrir, não tem dinheiro suficiente para você roubar, seu idiota!”
E nesse instante, fora esfaqueado no peito.
Ele não se lembrava de nada depois disso, o que significava que provavelmente morrera instantaneamente. A faca do ladrão certamente atravessara seu coração.
— “Minha vida… acabou mesmo? Eu ainda estava começando… E eu ia… finalmente, no Tsujisoba…”
Ele engoliu as palavras restantes e fechou os punhos. Não queria se lamentar, mas essa morte sem salvação parecia injusta. Até quando seu corpo e mente foram destruídos pela empresa black, ele não sentira nada. Mas agora, suas emoções estavam à flor da pele. Tão intensa era sua paixão pelo Tsujisoba que qualquer pensamento sobre a perda fazia-lhe quase chorar.
— “Não precisa se desesperar tanto.”
De repente, uma voz jovem soou atrás dele.
— “Hã?”
Surpreso, Fumiya se virou e viu um jovem parado ali. Ele vestia uma túnica branca que lembrava os antigos gregos, cabelos longos dourados esvoaçando para trás, e uma aura calma. Provavelmente, ele era um Deus atrás dele, havia um brilho como um halo.
— “Olá, Fumiya Natsukawa. Prazer em conhecê-lo.”
O jovem sorriu levemente e levantou a mão de forma elegante.
— “Espere… você quer dizer que…”
Fumiya nem precisou terminar a frase; o jovem assentiu.
— “Exato. Como você imagina, eu sou um Deus.”
— “Entendo…”
Era realmente um Deus. Fumiya, sendo japonês puro, esperava algo próximo aos Deuses xintoístas, mas parece que o correto era algo inspirado na mitologia grega.
— “Mas não sou um Deus da Terra.”
— “Não e um Deus da Terra? Então você é um Deus da Lua, ou de Marte?”
Fumiya perguntou, e o Deus sorriu de modo envergonhado.
— “Não, não. Eu sou um Deus de outro mundo. Talvez seja melhor dizer: um Deus de outro universo.”
— “Outro mundo… você quer dizer outro mundo paralelo? Mas… isso é impossível de acreditar assim do nada.”
Ele sabia do conceito de mundos paralelos, mas não que eles existissem de verdade e agora alguém na sua frente dizia ser o deus desse mundo paralelo. Difícil não se confundir.
— “Não precisa complicar. É simples: outra vida em outro mundo. Você já ouviu falar de isekai em novels online?”
Fumiya conhecia o conceito, mas nunca havia lido tais obras. Durante os estudos, lia mangás; e no trabalho, nem tempo livre havia. Depois de sair da empresa, mesmo com o Tsujisoba, não havia tempo para ler.
— “Não. Eu não leio muito, nem novels nem nada.”
O Deus murmurou um “hmm” preocupado.
— “Então, jogos? RPGs, por exemplo?”
— “Ah, sim, joguei. Mas só na época de estudante.”
O Deus assentiu aliviado.
— “Ótimo. Então, a história é simples. O mundo que cuido é como os de RPGs um pouco de fantasia.”
— “Você quer dizer, com monstros, espadas, magia… tipo Europa medieval?”
Fumiya sabia o suficiente para entender a ideia, mesmo que não fosse especialista em fantasia. O deus assentiu.
— “Exato. As pessoas têm habilidades especiais chamadas gifts, e magia é uma dessas habilidades. Mas nem todas são voltadas para combate.”
— “E por que um Deus de um mundo de fantasia quer um simples humano como eu?”
Fumiya franziu a testa. Um deus não apareceria sem motivo, mas também não parecia que o levaria como herói. Por que ele, um gerente de soba, seria importante? O deus sorriu enigmaticamente.
— “É simples. Você quer renascer, não quer?”
— “Hã? Isso… é possível!?”
Fumiya arregalou os olhos. Se isso fosse verdade, ele poderia continuar seu sonho: levar alívio e soba para pessoas como ele já havia feito. O Deus assentiu.
— “Sim. Sou um Deus, afinal.”
— “E… então?”
Fumiya queria dizer: Me faça renascer! Mas o deus ergueu a mão para detê-lo.
— “Se desejar, você renascerá. Mas não na Terra. Em meu mundo. Um verdadeiro isekai.”
— “Hã!? Não na Terra!?”
Fumiya ficou atônito. Ele, um humano comum, sem habilidades especiais, sendo mandado para um mundo de fantasia. Parecia um pesadelo.
O Deus explicou:
— “Não posso ressuscitá-lo na Terra. Conseguimos permissão para renascer, mas não aqui. Caso contrário, enfureceria os Deuses da Terra.”
— “…Eu sou um humano comum. Não sou herói. No mundo de fantasia, o que eu faria? Renascer e morrer logo depois?”
— “Não, não. Você receberá um gift. Com ele, pode se tornar herói ou rei, viver sem trabalhar, até ter um harém. Mas, mesmo como herói, não haverá nenhum grande mal a derrotar.”
Então havia algum tipo de segurança. Mas Fumiya não queria ser herói, rei, nem criar harém. Ele não queria viver em um mundo de fantasia; parecia absurdo.
— “E se eu recusar?”
O Deus pareceu realmente incomodado.
— “Pode recusar, mas não recomendo. Sua alma voltará ao ciclo da reencarnação sem lembranças. Você pode nascer como humano daqui a cem anos… ou como outra criatura. Não há garantia.”
— “Entendo…”
Fumiya pensou profundamente. Se renascesse como outro ser, seu amor pelo Tsujisoba desapareceria. Seria improvável nascer como humano de novo. Insetos? Microrganismos? Não importava; não poderia trabalhar no Tsujisoba.
— “Então… como posso manter essa paixão e renascer?”
— “Quer tentar no meu mundo? Você terá o gift que quiser.”
Fumiya não respondeu. Pensava intensamente.
— “Então… o que quer fazer no outro mundo?”
— “Eu sei… o que quero fazer. Mas não tem nada a ver com outro mundo.”
Ele pensou na única possibilidade: continuar com o Tsujisoba mesmo em outro mundo. Algo impossível, mas… era o único desejo.
— “Então faça. É sua vida. Só não use para o mal.”
Fumiya respirou fundo e disse:
— “Eu… quero trabalhar no Tsujisoba.”
O Deus ficou surpreso por um instante.
— “Ah… sim. Você quer abrir uma loja de soba no meu mundo?”
Fumiya balançou a cabeça.
— “Não uma loja qualquer. ‘Nadai Tsujisoba’. Mesmo em outro mundo. Eu quero trabalhar no Tsujisoba.”
O Deus provavelmente não entendia a diferença, mas percebeu a intensidade da paixão de Fumiya.
— “Quero trabalhar no Tsujisoba. Se posso escolher meu gift, quero um que me permita abrir o Tsujisoba.”
E assim Fumiya chegou à conclusão: se havia um gift que poderia até torná-lo rei, ele só queria usar para realizar seu único sonho: o Tsujisoba.
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