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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O Príncipe Infeliz é um Alquimista Gênio - Capítulo 01

Capítulo 1: O Filho Mais Velho do Imperador - ①

Meu hobby era ler o dicionário.

As pessoas normalmente riam quando eu dizia isso.

Mesmo assim, para mim, descobrir palavras desconhecidas e perceber minhas próprias ideias pré-concebidas era como uma leitura prazerosa.

Talvez também fosse porque não havia muitos outros passatempos acessíveis que satisfizessem facilmente minha curiosidade intelectual.

Lembrei-me disso quando ouvi o estrondoso toque de um sino.

— Ora, por que o jovem Arsha-sama não pode se aproximar da capela mesmo com o sino da bênção soando?

Quem lamentava em meu lugar era Harty, minha ama de leite e irmã mais nova de minha falecida mãe.

Ela ainda tinha apenas vinte anos, com longos cabelos azul-marinho.

E Arsha… era eu.

Eu tinha três anos de idade naquele ano.

Mas, ao mesmo tempo, também me lembrava de memórias de um tempo em que eu era uma pessoa completamente diferente.

Eu, que nascera e crescera no Japão, na Terra, no século XXI, parecia ter morrido.

Tinha lembranças do meu 30º aniversário, mas não me lembrava de ter comemorado o de 31.

Não me lembrava como morri, mas parecia ter sido em um desastre, então provavelmente não foi culpa de ninguém.

— Que crueldade de Sua Majestade deixar o pequeno Arsha-sama sozinho!

— Harty-dono, não diga mais nada. Ele ainda é o pai de Arsha-sama, afinal.

Acalmando a chorosa Harty estava um jovem alto de cabelos verdes, que parecia um pouco mais velho do que ela.

O que mais chamava a atenção eram as orelhas triangulares em cima da cabeça, cobertas de pelo verde, e o rabo volumoso que crescia em sua cintura.

Sim, parecia que eu tinha reencarnado em outro mundo.

Afinal, nas minhas memórias como japonês, não havia cores de cabelo assim, muito menos homens-besta.

Acima de tudo, eu tinha lembranças vagas, mas reais, dos meus três anos de crescimento como Arsha.

— O que é esse sino da bênção?

Quando abri a janela para ouvir melhor o som e fiz a pergunta, Harty e o estudioso de orelhas bestiais, Wearel, desviaram o olhar.

Parecia que isso era algo que eu não deveria perguntar.

E senti nojo de mim mesmo por me preocupar tanto com as reações deles. Era igual na minha vida passada.

Nasci em uma família rica, abençoado com boa aparência, e capaz de fazer a maioria das coisas se me explicassem.

Mas, na realidade, meus dias eram passados observando as expressões dos meus pais, fazendo o que eles desejavam e sendo o que queriam que eu fosse.

Se me chamassem de filho único mimado, estariam certos.

Mas achei minha vida anterior terrivelmente sufocante.

— Uma bênção… uma celebração… é isso mesmo.

Lembrei-me do motivo pelo qual recordava meu 30º aniversário.

Era porque foi o primeiro aniversário depois que meus pais morreram.

Eles morreram juntos em um acidente.

Senti uma mistura de perda e alívio, e odiei isso.

Por desespero, organizei sozinho uma festa de aniversário.

Foi vazio, mas libertador, e no fim bebi demais por ódio de mim mesmo.

Senti como se estivesse colocando uma tampa no meu próprio sofrimento só porque era privilegiado e havia pessoas em situações piores. Então fugi para o caminho mais fácil: obedecer aos meus pais.

— O que estão fazendo, aborrecendo o Príncipe assim? Não deveriam mostrar rostos tão sombrios.

O dono da voz também era alto, um homem-besta com rosto de urso ruivo. Wearel era mestiço e parecia mais humano, mas esse tal de Helkov era um homem-besta puro.

Andava sobre duas pernas como um humano, mas seu rosto era o de um urso.

Eu lembrava de ouvir que Helkov fora soldado.

Era o mais velho entre os adultos ao meu redor, mas não dava para adivinhar sua idade por seu rosto de urso.

— Arsha-denka, esse sino é o sino da bênção para o batismo de seu irmão mais novo.

Quem disse isso foi Ikuto, da raça do Povo do Mar, de pele azulada.

Seu rosto era plano como o de um asiático oriental, mas seu cabelo era de um laranja coral, uma cor que não existiria no meu mundo anterior.

Espera… eu estava tão ocupado comparando esse mundo ao anterior que quase deixei passar algo importante.

— …Irmão mais novo? Eu… tenho um irmão mais novo?

Um sentimento estranho de alegria suavizou minha expressão.

Na vida passada, fui filho único, sem ninguém que eu pudesse chamar de amigo de infância, e minhas amizades foram se distanciando com o tempo.

Talvez porque minha relação com meus pais não fosse boa, exceto na aparência, eu invejava os outros sempre que os ouvia falar sobre irmãos.

Discussões, reclamações, estar em pé de igualdade, ter a mesma perspectiva… essas eram coisas que vinham com irmãos, e eu queria esse tipo de relação.

— Está feliz que seu irmãozinho nasceu? — perguntou Harty, atenciosa.

— Claro!

Porque eu não estava sozinho.

Eu tinha uma ligação que nunca poderia ser quebrada.

Que coisa maravilhosa era essa!

Em outras palavras, eu ia ser um irmão mais velho.

Eu, que fora o mais novo na minha família anterior, agora poderia estar em posição de proteger alguém.

— Quando posso conhecer meu irmão?

— Isso…

Quando perguntei com expectativa, Harty hesitou.

Será que a condição da minha mãe estava ruim?

Batismos eram realizados poucos dias após o nascimento.

Era costume receber um nome batismal e relatar o nascimento a Deus.

Então pensei que meu irmão deveria estar bem.

Wearel bateu no ombro de Harty.

— Mesmo que este não seja filho da Imperatriz, ainda é filho do Imperador.

— Acho melhor ensinarmos a ordem adequada das coisas antes que alguém interfira à toa — acrescentou Helkov.

— Não há ninguém por perto agora. Todos os guardas foram para a capela — disse Ikuto, que também fazia parte da guarda do palácio, usando uniforme e carregando uma espada.

Meu entendimento da situação atual, com apenas três anos de idade, não era muito alto.

Aqui, a maior autoridade do Império era o Imperador, e embora houvesse inúmeros países no continente, o Imperador desse Império os governava a todos.

Entre esses países havia homens-besta como Helkov e Povos do Mar como Ikuto, e embora parecesse humano, Wearel era meio-elfo.

Harty e eu éramos humanos.

Havia muitos humanos no castelo do Império humano, ou pelo menos era o que eu sabia.

— Não sei quanto vai compreender, Arsha-sama, mas você nasceu como uma criança desejada. Por favor, nunca duvide disso.

Harty, minha ama de leite, transmitiu isso com uma seriedade que parecia uma prece, um apelo.

Primeiro, a raiz da minha situação atual estava em meu pai.

E em meu avô, o pai dele, o Imperador anterior.

Simplificando, meu pai era algo como um filho ilegítimo do Imperador anterior.

Digo “algo como” porque, embora fosse legitimamente reconhecido, como sua mãe (minha avó) se casou com um conde como segunda esposa, ele foi tratado como filho da família do conde, ao que parecia.

— Isso é complicado. Ele foi reconhecido como filho do Imperador, mas tratado como parte da família do Conde?

— Sim, exatamente. Linhagem e posição social são coisas separadas.

Segundo Harty, isso parecia ser senso comum aqui.

E assim, meu pai cresceu como o terceiro filho da família do Conde, casou-se com minha mãe, filha de um visconde, e eu nasci.

Ou seja, também nasci como membro da família do Conde.

Mas a situação mudou quando os inúmeros outros príncipes morreram, um após o outro.

Ferimentos de quedas de cavalo, longas doenças, acidentes durante viagens, e assim por diante.

No fim, meu pai aparentemente era o único filho legítimo do antigo Imperador que restava.

Portanto, ele foi de repente nomeado Príncipe Herdeiro.

Quando eu tinha um ano de idade, minha mãe já havia morrido, e o antigo Imperador estava em seu leito de morte.

Quando eu tinha dois, meu pai passou às pressas pelo treinamento de herdeiro e se casou novamente com a filha de um duque.

E agora, aos três, meu pai havia se tornado o novo Imperador, e sua nova esposa, a Imperatriz.

— E quanto a mim?

— Você é o filho mais velho do Imperador, Sua Alteza Imperial… No entanto, como não é filho da Imperatriz, deve renunciar ao direito de sucessão ao seu irmão mais novo.

Harty me contou isso com hesitação, mas eu ri.

Do fundo do meu coração.

Honestamente, até ser chamado de príncipe já era demais para mim, um plebeu na vida passada.

Mas agora eu tinha um irmãozinho de linhagem impecável.

Nesse caso, eu o apoiaria com todas as minhas forças, e não seria ótimo ser um irmão mais velho que apoia um caçula assim?

— Obrigado por me contar.

Apesar do meu riso, todos me olharam com pena.







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